Impacto do clima nos setores de energia e do agronegócio e necessidade de medidas de adaptação às mudanças climáticas e mitigação dos GEE são destaque do II EMSEA

Promovido pela Climatempo, evento contou com a participação de especialistas de empresas e órgãos públicos em palestras e painéis temáticos realizados no Parque de Inovação Tecnológica de São José dos Campos

A meta de impedir que os termômetros ultrapassassem 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, estabelecida no acordo de Paris, em 2015, já foi descumprida e, no último dia 22 de julho, a temperatura média global diária alcançou o recorde de 17,15°C, evidenciando que o aquecimento global vem avançando e trazendo a reboque eventos climáticos extremos cada vez mais recorrentes e intensos. É um cenário que exige adaptações urgentes e a mitigação das emissões de carbono, segundo alertaram especialistas durante o II EMSEA – Encontro Nacional de Mudanças Climáticas Para o Setor de Energia e Agronegócio –, realizado pela Climatempo, a maior e mais reconhecida empresa de consultoria meteorológica e previsão do tempo do Brasil e da América Latina, na última quinta-feira (25/07).

No evento, realizado no Parque de Inovação Tecnológica de São José dos Campos (SP), a meteorologista Marcely Sondermann, da Climatempo, e o sócio da consultoria 9Stone, Carlos Rebello, ressaltaram que é fundamental hoje que os programas de compliance das organizações contemplem ações para mapear os riscos climáticos e adotar medidas que promovam a transição energética e a descarbonização.

Os impactos das mudanças climáticas são visíveis no setor de energia e no agronegócio. No segmento de transmissão de energia, as linhas estão sendo impactadas principalmente por ventos cada vez mais velozes, descargas elétricas, erosões e incêndios mais recorrentes, que causam desligamentos e prejuízos para as empresas e sociedade. Como medidas de adaptação, as concessionárias estão incluindo os estudos climáticos futuros em seus projetos, como forma de proteger os ativos e manter a operação.

“Não basta hoje olhar apenas o histórico dos eventos, porque o cenário mudou com o aquecimento global, então são necessárias análises de modelos meteorológicos futuros para que sejam feitas adaptações e medidas de mitigação dos impactos nas linhas”, afirmou o superintendente de transmissão da Alupar, Sergio Antezana, painelista do II EMSEA. “Desta forma, conseguimos, por exemplo, realizar a poda da vegetação de forma mais inteligente em áreas com risco de incêndio ou identificar onde pode haver chuvas fortes e enviar equipes que atuem rapidamente no caso de desligamento”.

Para contribuir com as questões de transição energética e de descarbonização, o segmento de transmissão necessita atualmente de mais infraestrutura para levar a energia renovável primordialmente gerada no Norte e Nordeste do Brasil para os grandes centros de consumo do Sul, Sudeste e Centro Oeste. “A geração elétrica brasileira hoje é 90% renovável, mas são necessárias mais linhas de transmissão para ajudar a promover a transição energética nacional, limpando o consumo nos grandes centros”, observou o diretor de ESG da EDP, Dominic Schmal.

No ano passado, mais de 10 mil quilômetros de linhas foram leiloados para fazer essa conexão, e o desafio será implementar os novos projetos com tecnologia de baixo carbono e uma infraestrutura adaptada às mudanças climáticas. “Temos realizado estudos para adotar medidas adaptativas nos projetos, porém os eventos climáticos mais extremos são realidade e o desafio é trazer essa discussão dos impactos também para a regulação do setor”, apontou Ana Carolina David, gerente de Comunicação, Sustentabilidade e Relações Institucionais da ISA CTEEP.

Sobre essa questão, a ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) realizou tomada de subsídios no primeiro semestre do ano para avaliar a necessidade de intervenção regulatória associada ao aumento da resiliência a eventos climáticos nos sistemas de transmissão e distribuição. Segundo a coordenadora da Secretaria de Inovação e Transição Energética da ANEEL, Djane Fontan Melo, painelista do encontro, a agência está atenta ao fluxo da energia limpa para as áreas de maior consumo e aos desafios de resiliência das linhas frente aos eventos climáticos extremos, como maneiras de colaborar com a transição energética e garantir a segurança energética brasileira.

O enfrentamentos dos eventos climáticos e as mitigações de GEE no agronegócio
Os impactos das mudanças climáticas afetam todas as cadeias produtivas do agro e o meteorologista e Head da vertical de Agronegócio da Climatempo, Caio Souza, defendeu o que a empresa instituiu como a “segunda revolução climática do setor”. Trata-se de previsões geolocalizadas e da aplicação das informações climáticas na operação das propriedades rurais, considerando a cultura e a realidade local para o desenvolvimento de ações de mitigação e de adaptação dos impactos.

“A ideia é juntar os dados históricos com a previsão geolocalizada para o planejamento corporativo das empresas e para alcançar a mencionada segunda revolução climática no campo”, afirmou Souza.

Entre os representantes de empresas do setor de carnes que participaram do evento, incluindo JBS, Marfrig e Minerva, os estudos climáticos ajudam a determinar a capacidade de retenção de água no solo, a monitorar as pastagens e a favorecer o avanço genético dos animais, garantindo mais resiliência nas operações frente aos eventos climáticos.

Em termos de descarbonização, as empresas atuam baseadas em metas climáticas aprovadas cientificamente para mitigar as emissões de escopos 1, 2 e 3, sendo o escopo 3 o mais desafiador, por considerar as emissões em propriedades parceiras que não são diretamente controladas por elas.

Segundo José Luis Tejon, escritor e sócio-diretor da Biomarketing, a adoção de práticas sustentáveis no agronegócio e de medidas de mitigação dos impactos do clima têm potencial de elevar significativamente a participação do agro no PIB nacional, pois as ações trazem rentabilidade para as operações, bem como valorização imobiliária das propriedades. “São práticas que precisam ser pensadas em conjunto e que agregam resultados para o produtor rural”, observou ele durante painel no II EMSEA.

Na opinião do Chefe-Geral da Embrapa Territorial, Gustavo Spadotti, é essencial desenvolver soluções que resolvam problemas reais enfrentados pelos produtores rurais. Neste sentido, a empresa pública elencou as problemáticas e ajudou a encontrar as soluções tecnológicas para mitigar as emissões dos GEE e os efeitos das mudanças climáticas no campo. Entre elas, a agrometeorologia de precisão como uma maneira eficaz de identificar os eventos extremos e ajudar os produtores a melhorarem a genética das plantas, por exemplo, para se tornarem mais resilientes e adaptadas ao local de cultivo.

Em termos de redução das emissões, Spadotti citou durante um dos painéis do evento a adoção dos biocombustíveis e dos bioinsumos dentro das propriedades rurais como medidas importantes de descarbonização.

O gás natural e o biometano também possuem papeis importantes no contexto de transição energética, pois são fontes energéticas menos intensivas que substituem os combustíveis fósseis. “Comparado ao diesel, o uso do metano é capaz de gerar uma descarbonização significativa especialmente no transporte pesado”, disse no evento Christiane Delart, diretora de distribuição de gás na Naturgy Brasil.

Concessionárias como a Naturgy Brasil e a Comgás estão empenhadas em desenvolver corredores sustentáveis no País, a fim de estimular a circulação de frotas de caminhões movidos a gás natural e biometano pelas rodovias brasileiras. Por enquanto, um corredor verde na Rodovia Presidente Dutra, ligando o Rio de Janeiro a São Paulo, está em operação, mas outros 10 estão previstos para funcionarem em outras rodovias no curto prazo.

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