A transição energética e o Big Data

Os desafios e oportunidades para a continuidade do desenvolvimento econômico global trazem para o teatro de operações uma nova era no que diz respeito à disponibilidade e tratamento de dados.

Nos últimos anos, temos discutido muito as diferenças entre a terceira e a quarta revolução industrial, e neste contexto, discutimos muito a indústria 4.0. Muito bem, a definição de indústria 4.0 já é bem conhecida, mas temos que considerar um fator muito importante, que vem ganhando importância e acho que devemos discutir também: o Big Data

Essa grande, gigantesca e antes impensável quantidade de dados disponíveis trouxe a necessidade de ampliarmos, e estamos falando de muitas vezes mais, a quantidade de Datacenters ao redor do mundo, para armazenar e processar tudo isso. A reboque, veio junto a importância de se proteger esses dados contra o roubos e invasões de sistemas, via cyberattack. Tudo isso, já é de nosso pleno conhecimento.

Só como preâmbulo, minha geração, há 40 anos, fazia pesquisas para trabalhos escolares utilizando enciclopédias impressas, que ainda são imponentes e bem conservadas na casa dos meus pais, numa bela biblioteca. Hoje, meus filhos vão a esta biblioteca somente para ver fotos antigas, que à época eram impressas!

Duas gerações após a minha, utilizaram buscadores na internet para obter informações e estas, basicamente, eram a versão eletrônica daquelas belas enciclopédias as quais me referi.

Entretanto, meus filhos não estão fazendo suas pesquisas nem no papel, nem nos buscadores ou na Wikipédia. Estamos vivendo neste exato momento, mais uma transformação disruptiva, óbvia consequência de toda essa quantidade de dados disponíveis. Sim, estou falando da Inteligência artificial. Nos comunicamos com os aparelhos por voz, realizamos pesquisas por imagens captadas de todas as formas e obviamente, se meus filhos querem sabem qualquer coisa de qualquer momento da história, basta dizer uma frase, que um sistema complexo de reconhecimento de voz transforma esta demanda em um texto, que um algoritmo busca nos arquivos e entrega a informação em menos de 4 segundos. Sensacional!!! E digo mais, trabalhos escolares são uma coisa que os professores devem substituir de alguma forma, pois não são os alunos que fazem as pesquisas, muito menos redigem o conteúdo narrativo, são motores como o ChapGPT.

Toda essa inteligência tem duas consequências práticas que são o verdadeiro escopo deste texto: consumo energético e aumento da capacidade (tráfego e processamento de dados) e potência elétrica instalada dos Data Centers, cujo sua evolução pode ser observada na Figura 1:

A evolução dos Data Centers é um reflexo direto das necessidades tecnológicas em constante mudança. A princípio, esses centros eram instalações simples e pequenas, focadas apenas em armazenamento e processamento básico de dados. Contudo, com o crescimento exponencial da quantidade de dados e a necessidade de maior segurança e disponibilidade, os data centers evoluíram em complexidade e capacidade.

A história dos Data Center começa com os mainframes na década de 1950 e 1960. Esses computadores de grande porte eram instalados em salas controladas e exigiam condições ambientais específicas para operar corretamente. Na década de 1980, a computação distribuída trouxe uma nova abordagem. Pequenos servidores, ligados em rede, permitiram maior flexibilidade e escalabilidade. Nessa época, os Data Centers começaram a adotar padrões para melhorar a eficiência e a confiabilidade. 

Na virada do milênio, teve início a terceira geração de data centers, caracterizada pela virtualização e pela computação em nuvem. A virtualização permitiu uma utilização mais eficiente dos recursos físicos, enquanto a nuvem proporciona escalabilidade quase ilimitada e acesso sob demanda aos recursos de TI. Essas tecnologias transformaram a forma como as empresas gerenciam seus dados e aplicações, oferecendo maior agilidade e redução de custos.

Atualmente, os Datacenters estão se movendo para a quarta geração, onde a ênfase está em data centers definidos por software (SDDC) e automação. Esta geração permite uma gestão ainda mais eficiente, com a capacidade de automatizar tarefas de rotina e ajustar dinamicamente os recursos conforme necessário. Além disso, a segurança cibernética se tornou uma prioridade, com a implementação de tecnologias avançadas para proteger contra ameaças cada vez mais sofisticadas. (Fonte: Century Telecom).

A classificação TIER é um tipo de certificação que visa atestar o desempenho e a confiabilidade de infraestruturas de Datacenters. Trata-se de um sistema criado e ainda aplicado pelo Uptime Institute, há mais de 25 anos. O conjunto de normas (ANSI/TIA/EIA-942) define parâmetros mecânicos, elétricos, arquitetônicos e de comunicação para a melhor execução de data centers. 

A classificação TIER é independente de porte (variando de 1 a 4, em ordem crescente de performance), atestando pontos como disponibilidade e desempenho para nortear os investimentos das empresas. Entre os pontos críticos avaliados, a própria Uptime Institute elenca os principais:

Baseado em desempenho: é preciso que o projeto atenda aos requisitos de disponibilidade, redundância e tolerância a falhas.

Neutro em Tecnologias: a Classificação TIER não exige e nem depende de tecnologias padrões, mantendo a abertura para inovações.

Independência de fornecedores: não há relação ou dependência do instituto com fornecedores.

Flexível: a empresa fica livre para cumprir as normas locais.

Ciclo de vida: a certificação busca atestar todas as necessidades por trás de um data center.

Certification: a certificação é independente, ministrada por engenheiros especialistas. (Fonte: Ascenty.com)

Naturalmente, quanto mais alto o TIER, mais robusta a infraestrutura dos Data Centers o que demanda instalações elétricas muito mais sofisticadas.

O fato de termos instalações desta robustez em capacidades atualmente com consumos de energia elétrica acima dos 100MW, e que demandam altíssimo nível de confiabilidade (TIER 3 e TIER 4), estamos falando de sistemas com elevados níveis de segurança, mas também com correntes nominais elevadas, níveis de curto-circuito robustos, sistemas de energia ininterrupta como nobreaks e UPS`s, além de sistemas de resfriamento para os servidores que talvez ainda nem existam. Estamos falando de muito trabalho e de muita pesquisa e desenvolvimento para prover tudo isso, ou seja, muitas oportunidades.

Além disso, estamos falando em resumo, que os Datacenters são uma grande oportunidade ao Brasil, por sermos grandes geradores de energia limpa para os Green Data Centers, ou seja, instalações que processam dados de forma sustentável e de baixo custo.

Essas e outras novidades já estão fazendo parte das mais modernas instalações pelo mundo. Quer conhecer mais dessas novidades, leia na próxima edição.

Sobre o autor:

Nunziante Graziano é engenheiro eletricista, e diretor da Gimi Pogliano Blindosbarra Barramentos Blindados e da GIMI Quadros elétricos. | nunziante@gimipogliano.com.br

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